Criar, Corpo

Ninguém sabe nadar verdadeiramente antes de ter atravessado sozinho um rio largo e impetuoso ou um estreito, um braço de mar agitado.

Existe apenas um espaço numa piscina, que é território para aí se mergulhar em conjunto.
Partamos, mergulhemos. Depois de ter deixado a margem, permanece-se algum tempo muito mais perto de um do que de outro, mesmo de frente, pelo menos o suficiente para que o corpo se entregue a esse cálculo e diga silenciosamente que pode sempre regressar. Até um certo limite, podemos encarar essa segurança, ou seja, que nada foi abandonado.

Do outro lado da aventura, o pé espera a aproximação, desde que franqueou um segundo limiar: encontra-se bem perto da margem para dizer que se chegou.
Margem direita ou margem esquerda, pouco importa nos dois casos: terra ou solo. Não se nada, espera-se poder andar, como alguém que salta no ar e desce, mas não permanece no seu voo.

PeIo contrário, o nadador sabe que um segundo rio corre naquele que toda a gente vê, entre as duas margens, antes ou depois de terem desaparecido todos os cuidados: é aí que fica toda a referência.

O terceiro Instruído
Criar, Corpo

Michel Serres

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